segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Artista plástico expõe em Niterói objetos marcados pela chuva


Por: Maria Laura MachadoNa sala de seu apartamento em Ipanema, o argentino Leo Battistelli expõe obras de diversas fases. Foto: Marcio OliveiraNa sala de seu apartamento em Ipanema, o argentino Leo Battistelli expõe obras de diversas fases. Foto: Marcio Oliveira
Nas mãos do artista plástico e designer Leo Battistelli, o que viraria lixo se transformou na exposição “Memória de Água”, que pode ser vista no MAC até o dia 4 de dezembro

Quando as águas devastadoras das chuvas de janeiro baixaram, a fábrica de cerâmicas Luiz Salvador, em Itaipava, Região Serrana, tinha em suas paredes e produtos a marca da tragédia. A lama cobriu peças inteiras, registrou a fúria com que a natureza pedia para reocupar seu lugar. O que viraria lixo, nas mãos do artista plástico e designer Leo Battistelli se transformou na exposição “Memória de Água”, que pode ser vista no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) até o dia 4 de dezembro.
As cerâmicas tingidas pelo barro vermelho ganharam o mesmo tratamento que as peças ditas “perfeitas” ganhariam. O que é defeito aos olhos da maioria, para Battistelli é o retrato mais fiel da natureza. Usufruir dos recursos naturais com responsabilidade é o mandamento que rege a vida e o trabalho do artista.
“No momento em que se joga algo fora, que algo passa a ser inútil, deixa de ser nobre. É um conceito muito absurdo. Para mim, continua sendo tão nobre quanto a cerâmica antes de ser jogada fora. É o que vivencio pessoalmente e tento que minha obra não contamine e não destrua. O material que uso na fábrica já é reciclado, utilizo a parte que a fábrica não usa dos fornos, preencho os buraquinhos com minhas peças para aproveitar ao máximo a queima. Eu sei que é um modo que pede mais tempo, mais dedicação, dá muito mais trabalho”, afirma.
A exposição faz parte do evento “Niterói Encontro com a América do Sul”. Battistelli nasceu em Rosário, na Argentina, a 300 quilômetros da capital Buenos Aires, e foi convidado pelos organizadores de sua cidade natal para integrar o grupo de artistas participantes do evento.
A lama produziu desenhos únicos. Muitas peças foram completamente encobertas, outras registraram a altura exata da inundação. “Memória de Água” começou a tomar forma em meados de fevereiro, quando a fábrica de cerâmicas pôde iniciar os trabalhos de limpeza e recuperação. O que seria levado para o descarte foi sendo separado pelo artista, que pretendia expor as peças o mais rápido possível. Expor em Niterói não poderia ser mais oportuno.
“A cidade também tem uma história terrível ligada às chuvas. Pensei que seria um bom lugar, fechar o ano mostrando a obra, aproveitar que essa lembrança ainda está viva”, conta.
A cerâmica, para Leo Battistelli, é tão natural e essencial como qualquer outra parte de seu corpo. Nessa busca por fazer de sua obra uma extensão do mundo, o argentino se aprofunda em diversos aspectos da cultura brasileira, desde a origem tupi das palavras às manifestações religiosas. 
Fonte: O Fluminense

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