Estratégia é se preparar para o racionamento no período mais seco na região, previsto para começar nos próximos dias e durar até setembro


Desde janeiro os brasilienses estão convivendo com o racionamento de água. O rodízio de abastecimento começou em janeiro em quase 20 regiões administrativas e, segundo a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa), não tem data para acabar. Os reservatórios atingiram níveis críticos e a situação tende a piorar com a chegada do período seco, que se estende de abril a setembro.
Para se adequar, os agricultores da região estão utilizando novas técnicas de irrigação e monitoramento de água. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF) está ajudando os produtores e vai intensificar o trabalho até maio, após a safra de inverno ser colhida.
Francisco Santos de Souza, 50 anos, é um agricultor que tem tido sucesso no uso eficiente da água. O produtor de morangos, que chegou em Brasília há 10 anos, trouxe da Paraíba o sonho da terra própria. Nos 5 hectares, em Brazlândia, produz cerca de 300 caixas de morango por safra. A jornada de trabalho começa às 5h limpando as folhas secas de 100 mil pés do fruto para impedir doenças. Com a visita do Emater- DF em fevereiro, o agricultor mudou a forma de irrigação por meio do Irrigás, equipamento capaz de indicar a umidade do solo.
Inventado pelo pesquisador Adonai Gimenez Calbo, trata-se de uma cápsula porosa e oca por dentro que possui uma parede permeável à entrada de ar e água. Quando enterrada, a parede do filtro tende a entrar em equilíbrio com a umidade do solo. Se o terreno estiver úmido, os poros ficam cheios d’água e não há passagem de ar. Nesse caso, a lavoura não deve ser irrigada.
A montagem do equipamento é simples e barata. O produtor gastará entre R$ 8 e R$ 10 por um sistema prático que pode ser utilizado na maioria das lavouras, incluindo hortaliças, frutas, flores e plantas. “Em um mês adaptamos toda a plantação. Irrigar na hora certa e na quantidade adequada melhorou a qualidade do morango. Antes tínhamos muito fungo por excesso de água”, conta Santos.
O agricultor reduziu o consumo de água em 84%. “Diminuí o gasto com água porque só irrigo durante 25 minutos, uma vez por semana. Além disso, gasto menos com material, pois adubo menos”, explica Santos. “Como estamos na seca, não vou produzir mais, mas a qualidade do produto já está melhor”, constata o agricultor, que antes do manejo repetia a operação de irrigação todos os dias. A redução no uso do agrotóxico também é evidente. Como a planta fica mais resistente, a aplicação de defensivos agrícolas pode ser reduzida. “No caso do morango, eu aplicava quatro vezes por semana. Agora, é só uma vez”, afirma.
Uso eficiente
A produção agrícola utiliza cerca de 70% da água doce captada no país. O uso doméstico responde por apenas 10%. Para o superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, Sérgio Ayrimoraes, é importante garantir o abastecimento de água para todos os setores. “Com um sistema de gestão de recursos hídricos mais forte, teremos segurança hídrica para os diversos setores. Dessa forma, podemos criar regras e trabalhar prioridades de uso, onde a questão do valor agregado do produto pode entrar em debate”, esclarece.Para Ayrimoraes, em momentos de crise, as regras da gestão de recursos hídricos devem prevalecer ante as vontades e necessidades de setores específicos. “Quando pensamos no aumento da atividade produtiva, no crescimento do país, na maioria das vezes, isso está atrelado à boa gestão da água e à garantia de recursos hídricos para que todas as atividades aconteçam”, completa o superintendente.
Fórum Mundial da Água
Educação ambiental, uso consciente e reaproveitamento da água, entre outros temas, serão abordados pelo Correio Braziliense no seminário sobre os desafios da crise hídrica, que será realizado na próxima terça-feira. Os especialistas convidados vão discutir os problemas de abastecimento e os preparativos para o 8º Fórum Mundial da Água, que acontecerá na capital em março de 2018. Os interessados podem se inscrever gratuitamente no site do jornal no ícone do Correio Debate. É importante lembrar que as vagas são limitadas.
Fonte: Correio Braziliense
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