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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O fim da Casa Cruz: o último voo da Fênix

Imagem: Francis Ivanovich
Prédio centenário já não carrega o nome da tradicional papelaria
Prédio centenário já não carrega o nome da tradicional papelaria




























O Fim da Casa Cruz

Por Francis Ivanovich

O Rio de Janeiro ficou ainda mais pobre. A Casa Cruz fechou as portas. Fundada em 6 de dezembro de 1893 por José Rodrigues da Cruz, depois de se desentender com o seu pai, o comerciante português Manoel Rodrigues da Cruz, na condução de uma loja de artigos marítimos que vendia lampiões e vidros redondos para as vigias dos navios. Da briga familiar, surgia a primeira papelaria da cidade do Rio de Janeiro, aberta na atual Rua Ramalho Urtigão. Ao longo da sua história a papelaria do Largo do São Francisco sofreu com os incêndios, e o último ocorreu em dezembro de 2007, do qual fui testemunha.

Em 5 dezembro de 2008, a Casa Cruz reabriu, depois de uma completa reforma arquitetônica que revelou a beleza de sua construção e fachada, valorizando a região que estava bem degradada e ainda continua sofrendo com os descaso do poder público. Eu tive o privilégio de escrever e ler o discurso do seu renascimento, durante missa realizada na Igreja do Largo de São Francisco com a presença de funcionários e diretoria.

No discurso, eu comparava a Casa Cruz, vítima de incêndios, à Fênix grega, um pássaro da mitologia grega que quando morria entrava em auto-combustão e renascia das próprias cinzas. No entanto, a Casa Cruz não suportou a pior da fogueiras, a incineração do Estado e da Cidade do Rio de Janeiro por bandidos-incendiários da pior espécie.

A morte da Casa Cruz é a metáfora de uma cidade falida, estado pobre e de um país que agoniza em chamas brandas. Ao ver a Casa Cruz de portas fechadas, senti imensa tristeza. O Rio está de luto por mais esta morte. A morte que aqui fez parada e se revela dia-a-dia no derramamento de sangue de policiais e crianças inocentes. O fechamento da Casa Cruz é um dos expressivos símbolos da queimada criminosa que tomou todos os nossos campos.

Talvez, um dia, a chuva boa apague o incêndio cruel, e os campos floresçam outra vez sob um sol generoso com todos os cidadãos. Fica a esperança de que nossos netos possam testemunhar o renascimento de uma cidade, de um estado e um país digno, justo e próspero, liberto.

Que o fogo que nos consome neste instante, também destrua e transforme em cinzas todos os males que nos aflige. Amém.


*Francis Ivanovich é cineasta 

Fonte: Conexão Jornalismo 

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