Ele acordou “podre de rico”, mas com um vazio interior. Crodoaldo Valério não tinha mais a sua Rainha do Nilo e entrou em um conflito existencial e viu que precisava servir alguém
Ele acordou “podre de rico”, mas com um vazio interior. Crodoaldo Valério não tinha mais a sua Rainha do Nilo e entrou em um conflito existencial: “Preciso servir a alguém, e, ao mesmo tempo, me sentir útil”. Uma outra forma de dizer que “dinheiro não é tudo na vida” ou “dinheiro não compra felicidade”. Após a história contada na novela Fina Estampa (2012), a personagem de Tereza Cristinha (Christiane Torloni) morreu e deixou sua herança para seu fiel mordomo: Crô. É assim que começa a trama de Crô – O Filme, com direção de Bruno Barreto e roteiro de Aguinaldo Silva e protagonizado por Marcelo Serrado, que estreia dia 29 em 400 salas de cinema de todo o Brasil.
“Eu liguei para o Aguinaldo depois de falar com o Marcelo. Ele acabou escrevendo o roteiro e decidimos fazer. Eu gosto de gêneros, não é à toa que saí de Flores Raras e vim para o Crô. Quando a gente faz o que gosta, como é o nosso caso, a gente tem que variar, senão vai se enferrujando”, comenta Bruno, que compara a nova comédia com o drama que lançou em agosto.
Aguinaldo Silva revela que não podia partir da história da novela, mas, ao mesmo tempo, tinha que criar uma trama que não tivesse nada a ver com o folhetim.
“Usei apenas os três personagens básicos da turma do Crô: o ‘Zoiudo’ e a ‘Anã de Jardim’. Não tinha como dar errado porque eu tive o ator que eu queria para fazer o Crô. O Marcelo convence muito bem. E, na época, ele tinha acabado de fazer um delegado sanguinário e todo mundo falava para mim ‘Mas o Marcelo?’. Eu sabia que ele ia me surpreender”, revela o autor, que já teve outros personagens seus transformados em filme: Lili Carabina, no filme Lili, a estrela do crime, de 1987; o Giovanni Improta, no filme homônimo, de 2013; e, agora, o Crodoaldo Valério, o único que o dramaturgo escreveu o roteiro.
Para dar vida ao ícone da comédia em Fina Estampa, o autor pensou em escrever um personagem gay que fosse amado por todos e Marcelo Serrado como intérprete foi a cereja do bolo.
“Eu gosto de escrever para o cinema, assim como gosto de escrever para seriados de televisão. Gosto um pouco menos de escrever as novelas, mas são elas que me fazem tão conhecido”, assume Aguinaldo.
“O Crô faz parte daqueles personagens muito populares como o Giovanni, a Nazaré, a Carminha e a Odete Roimam. Ele é mais um que foi eternizado e nós não imaginávamos que ele teria a dimensão que tomou. Acho que ele passou qualquer tipo de preconceito. As crianças amavam o Crô, que já foi até personagem de ala de escola de samba. O Bruno me pegou de surpresa quando me procurou para falar de um possível filme e eu disse ‘procura o Aguinaldo, só faço se ele escrever o roteiro’, porque senão ia virar um híbrido”, lembra Marcelo, seguido de um coral dos amigos bem-humorados (Carlos Machado, Katia Moraes e Bruno Barreto): “Eu também, só teria topado se o roteiro fosse do Aguinaldo”.
A cantora baiana Ivete Sangalo vive, no longa, a falecida mãe do Crô, que fica lembrando-o de que ele nasceu para servir uma grande mulher, uma diva, e que ele precisa encontrá-la. Em meio a essa busca, Crô encontra o irmão gêmeo do vilão Ferdinand, morto na novela. O gêmeo do bem Jean Jacques (Carlos Machado) se encanta por Crô e eles resolvem se casar. O papel primordial para o clímax e toda a história se desenvolver é do Baltazar (Alexandre Nero). Entre as participações especiais estão Ana Maria Braga, Gaby Amarantos e Tiago Abravanel.
A vilã do longa, Vanusa (Carolina Ferraz), guarda um grande segredo, e, por pouco, não engana o mocinho da trama, que, no fim, vira um herói. Como disse a escritora goiana Luciene Rroques em um de seus textos: “Por anos, o homem imagina que ser útil é apenas servir; um dia ele cresce”. E o personagem principal do filme, depois da incansável procura pela nova patroa, que deveria merecê-lo como mordomo, encontra uma nova função para sua vida.
“Vi nessa história da exploração do trabalho imigrante e infantil uma oportunidade de adensar a história do Crô, de trazer profundidade e tirá-lo da superfície”, observa o roteirista.
A produtora do longa Paula Barreto não deixa de falar das dificuldades de produzir para o cinema no Brasil.
“Vamos estrear com dívida em banco. O orçamento do filme foi de 5 milhões e não conseguimos angariar nem 4 milhões. O problema é que, hoje em dia, no mercado, as mecânicas que existem, de financiamento, não atendem ao ritmo industrial de produção. Tínhamos um ano para o filme estrear”, enfatiza.
Fonte: O Fluminense
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